Meu pai criança. 

Lamento por escrever apenas in memoriam. 
Somos filhos tão falhos. 
Às vezes egoístas demais tentando manter nosso ego inflado o suficiente. 
Embora na mente dos filhos eles sejam imortais, nada nos prepara quando somos contrariados com a ideia da morte. 
Quem é meu pai?
Ele era contraditório. 
Mostra se turrão. Duro. Teimoso. 
Embora se ouvisse gargalhadas soltas assistindo aos Trapalhões, Pica-pau ou Mazaropi. 
Isto só ficou claro qdo soube que meu pai teve a infância roubada.
Não teve o privilégio que muitos têm de ter uma mãe. Uma família. 
Não pôde se preparar pra ter a sua. 
Por isso sempre foi criança. 
Aventureiro.  Um cigano talvez. 
Menino travesso. Que nem do avesso era fácil. 
Mas era meu pai. 
Talvez meio perdido no centro de suas seis filhas. 
Espero que ele viva em minha memória. Até o dia que eu possa revê-lo.